Ser
professor do ensino básico não é uma alternativa para a maior parte dos
estudantes brasileiros. É o que mostra pesquisa recente realizada pelo
núcleo de estagiários e aprendizes Nube. A enquete online perguntou aos
estudantes “você tem vontade de ser professor do ensino fundamental e
médio?” e contou com a participação de 6.910 jovens. Desses, 40,08%
responderam “não, é uma profissão cada vez mais desvalorizada”, e 19,69%
marcaram a opção “Já tive vontade, mas desisti pelas más condições”.
“O
que a pesquisa frisa é a imagem que o jovem tem do sistema de ensino no
Brasil, que ele vê com descrédito. Esse jovem vê os colegas desacatando
os professores e escolhe não ser professor”, analisa o psicólogo
Henrique Ohl, que atua como analista de treinamento no Nube.
As
salas de aula refletem bem o resultado da pesquisa. Em uma das turmas
de 1º ano do ensino médio do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG),
em Ouro Preto, somente três dos 25 alunos presentes no dia da visita da
reportagem de O TEMPO afirmaram
ter vontade de ser professor. “Eu não seria porque minha mãe é
professora e eu vejo o esforço que ela faz. Todos os dias, ela prepara
as aulas e, muitas vezes, chega em casa chateada porque não consegue dar
as aulas do jeito que ela havia planejado. Todo mundo desrespeita, é
uma vergonha. E ela não recebe bem”, conta a estudante Clara Tossige,
16.
Desencontro. Outro
fator que contribui para esse desinteresse é a distância que a escola
tomou da realidade de crianças e adolescentes. “Há uma tendência (por
parte dos estudantes) à negação da escola, pois ela tende a não
reconhecer as especificidades do jovem”, comenta o integrante do
Observatório da Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Juarez Dayrell. Ele afirma que as escolas ignorarem o novo estilo de
vida promovido pelos avanços tecnológicos também não contribui para uma
melhor visão da instituição. “Hoje, o menino entra no Google e fica
sabendo de qualquer assunto. A escola continua insistindo na transmissão
– e não na produção – de conhecimento e se tornou muito chata”,
condena.
A
solução para esse conflito é apresentada pelos próprios estudantes.
“Alguns professores conseguem fazer com que seus alunos tenham vontade
de aprender. Diversificar o modo de ensino e sair um pouco do padrão
algumas vezes já torna a aula interessante”, revela a estudante Letícia
Anjos, 16. E essa quebra de protocolo pode ser feita mesmo sem o uso de
tecnologias. “Muitas vezes, o professor insere as tecnologias na aula,
mas de forma totalmente despreparada”, opina Lucas de Castro, 15.
Apagão. Com
tamanho desinteresse por uma carreira de licenciatura, já é possível
prever um “apagão” de professores. “Já demos um primeiro passo nessa
direção. Segundo o Ministério de Educação e Cultura, temos um déficit de
180 mil profissionais para vagas de matemática, física e química”,
afirma Ohl. Mas isso não significa que o Brasil ficará sem professores.
“Essas vagas serão ocupadas por outros profissionais. Engenheiros para
as aulas de física, por exemplo”.
Se,
por um lado, os jovens não mostram vontade de ser professor, por outro,
sabem que suas opiniões ainda têm muito a mudar. “Vocação não é alguma
coisa que você tem, é algo que você vai adquirindo com a idade”, reflete
o estudante Daniel Alves, 16, com a sabedoria de um professor.
19,5% dos estudantes fazem cursos de licenciatura, que lhes habilitam a dar aulas para o ensino básico.
Fonte: O Tempo
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